Ainda tem muita gente, mas muita mesmo, que tem medo de incluir gordura na alimentação. Isso ficou enraizado na mente dessas pessoas, claro que baseado em estudo anteriores, mas também pelo receio que tem sido passado de geração em geração, exatamente porque a hipótese desenvolvida lá pela década de 1950, sugeria que o maior consumo de gordura levava ao desenvolvimento de doença cardíaca coronariana.

Depois disso, foi inevitável as dezenas de recomendações para reduzir o consumo de gordura, especialmente gordura saturada, sendo regra adotada por comitês de nutrição e ficou sempre presente das diretrizes relacionadas à doença cardiovascular. Mais recentemente, inspeções mais detalhadas na literatura sobre a relação entre gordura saturada e doença cardíaca revelaram várias surpresas. Se viu que estudos insuficientes, mal elaborados e até mesmo com manipulação de dados, foram responsáveis por difamara gordura saturada, criaram medo e promoveram a corrida em busca por alimentos “com baixo teor de gordura.

Desde então, a visão começou finalmente a mudar e a relação entre a ingestão de gorduras do tipo saturada e o surgimento de doenças cardíacas tem sido amplamente explorada e, nos últimos anos, as revisões não conseguiram encontrar evidências que sejam convincentes dos efeitos nocivos dessas gorduras. Por exemplo, uma revisão sistemática e meta-análise em 2015, que havia utilizado dados de 12 estudos prospectivos, concluiu que a ingestão de gordura saturada não está associada a causas de mortalidade de uma forma geral, doença cardiovascular, doença cardíaca coronária, acidente vascular cerebral isquémico, o AVC ou mesmo diabetes do tipo 2.

E daí vieram outras publicações. Um outro estudo conduzido em hospitais e publicado também em 2015, comparou durante 4 anos e meio duas consumo de duas dietas, uma contendo 18% de gordura saturada e 9%, e nenhuma diferença foi observada em relação a eventos cardiovasculares, mortes cardiovasculares ou mesmo mortalidade total

Outros dados ainda mais recentes, do estudo PURE de 2017, que incluiu 125.287 participantes de 18 países que foram acompanhados por 10 anos, mais uma vez mostraram que o consumo de gordura não aumenta risco cardiovascular e nem mortalidade e foi além. Uma maior ingestão de gordura saturada foi ainda associada a um menor risco de acidente vascular cerebral. E ainda... os dados sugeriram que uma ingestão maior de carboidratos (conforme infelizmente ainda recomendado nas diretrizes dietéticas) parece aumentar o risco de doenças cardíacas.

Por último, já que não é possível citar outros tantos estudos, uma meta-análise publicada em 2020 pelo JACC, jornal do colégio americano de cardiologia, esclarece que não há evidência suficiente que relacione o consumo de gordura anima, gordura saturada, com doenças cardiovasculares, podendo ser protetora contra AVC e sem a capacidade de elevar os níveis da fração do LDL considerada aterogênica, que seria o LDL oxidado, formado por moléculas pequenas e densas.

O que importa nessa conversa de hoje é mostrar que não existe justificativa científica para se continuar tendo medo da gordura. Isso é muito importante para se entender que é real a necessidade de praticar uma medicina que se baseia no indivíduo, nas suas necessidades, e não somente olha a população geral, colocando todos num mesmo saco. Individualização é o futuro do acompanhamento, que é o que defende o médico nutrólogo.

Muitos continuam preocupados com o consumo da gordura saturada, muito mais por um costume, porque foi assim que escutaram, que aprenderam. A gordura saturada, animal, pode fazer parte da nossa dieta, mas claro, isso não significa que devemos nos encher de gordura. Não se preocupar com a gordura não significa permissão para um exagero diário. Não deixe de comer sua gordura, mas se puder ter esse consumo ajustado ao seu plano, melhor. Busque um nutrólogo em Recife que possa lhe orientar.

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